segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

PROCESSOS EROSIVOS: VOÇOROCAS



Invariavelmente, todos os anos na época das chuvas mais intensas, a imprensa brasileira vem à carga com as mesmas notícias trágicas sobre mortes estúpidas e perdas materiais relacionadas a escorregamentos em áreas urbanizadas junto à Serra do Mar.
Importante se repetir: são tragédias inteiramente gratuitas e que ocorrem unicamente porque a administração pública e os interesses e decisões de caráter privado insistem em não levar em conta os diagnósticos e as orientações de caráter técnico que a Geologia de Engenharia vem insistentemente e largamente produzindo nestas últimas décadas em nosso país.
É preciso entender-se de uma vez por todas que os escorregamentos são fenômenos naturais na Serra do Mar, como em todas as regiões serranas tropicais. Ou seja, são fenômenos que ocorrem independentemente da ação do Homem. Obviamente eles ocorrem naturalmente segundo determinadas leis da geologia e da geomorfologia, e concentram-se especialmente em determinadas feições de relevo, como veremos um pouco mais adiante.
O autor tem como absolutamente certo que os únicos escorregamentos naturais em solo na Serra do Mar são os translacionais rasos sem superfície de ruptura definida. Esses escorregamentos são notadamente associados ao terço superior de encostas retilíneas com inclinações superiores a 30o e limitadas a montante por rupturas de declive positivas. A ocorrência generalizada desses escorregamentos está comprovadamente relacionada a históricos pluviométricos caracterizados por prolongadas chuvas de saturação culminadas com episódios de alta pluviosidade concentrada.
O autor considera que a dinâmica desses escorregamentos é associada às trincas de tração, normalmente ocorrentes logo abaixo das rupturas de declive, em uma zona de tração máxima promovida pelas diferenças de intensidade do rastejo dos solos superficiais a montante e a jusante da ruptura de declive. Essas trincas, ampliadas quando de chuvas de saturação prolongadas, permitem, quando de episódios de alta pluviosidade concentrada, uma direta, volumosa e rápida entrada de água no horizonte (solo e blocos de rocha) imediatamente inferior aos solos superficiais, com a formação aí de bolsões instantâneos de água (fornecimento, maior que capacidade de drenagem) que, a depender da relação de esforços resistentes e atuantes, podem “explodir” provocando um verdadeiro desmonte hidráulico na “raiz” do escorregamento. O material a jusante da raiz é mobilizado por arraste ou sobrecarregamento. O som dessa “explosão” inicial é invariavelmente descrito por testemunhas desses escorregamentos. A aceitação e/ou a comprovação dessa hipótese fenomenológica para os escorregamentos planares naturais da Serra do Mar implicará em concluir-se que as atuais interpretações e explicações que a Engenharia Geotécnica, e a Mecânica dos Solos em particular, vêm oferecendo para esses eventos estão totalmente equivocadas.
O NA do lençol freático é normalmente muito profundo na Serra do Mar, especialmente nas zonas das encostas onde se dão os escorregamentos translacionais rasos, não se associando nunca, portanto, à dinâmica desses fenômenos.
Escorregamentos rotacionais em solos na Serra do Mar só ocorrem quando associados a algum tipo de intervenção humana (desde desmatamentos até mutilações do terreno). Ao longo de toda sua vida profissional, o autor nunca testemunhou e nunca soube de registros falados ou escritos da ocorrência natural de escorregamentos rotacionais, assim como de algum tipo de movimentação natural rápida de depósitos coluvionares de meia encosta e de corpos de tálus.


PINTURA A CAL: UMA PODEROSA ARMA NO COMBATE À EROSÃO.

A TECNOLOGIA CAL-JET

Geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos

A dimensão dos processos erosivos em áreas urbanas (especialmente nas zonas de expansão urbana) e dos processos erosivos associados a obras civis (obras viárias, empreendimentos industriais e comerciais, dutovias, linhas de transmissão, etc.) tem evoluído exponencialmente no país, implicando em altíssimos custos sociais, econômicos e patrimoniais para a toda a sociedade. Consideradas suas condições geológicas e seu clima tropical, a quase completa ausência de maiores cuidados técnicos preventivos e corretivos no combate à erosão em todo o país, seja por descuido, seja por desconhecimento técnico, constitui o principal núcleo causal desse gravíssimo problema.
No caso específico da Região Metropolitana de São Paulo, a expansão urbana tem alcançado progressivamente terrenos topograficamente mais acidentados e geologicamente extremamente susceptíveis à erosão, e via de regra implicado em intensas e extensas operações de terraplenagem (na trágica cultura de se adaptar a natureza aos projetos, ao invés de se adequar os projetos à natureza), as quais têm exposto, invariavelmente e por longo espaço de tempo, grandes superfícies de solos à ação dos processos erosivos pluviais. Esta erosão é a origem do fantástico assoreamento de córregos, rios, bueiros, galerias de drenagem, constituindo-se em uma das principais causas das enchentes metropolitanas. Esses mesmos processos erosivos revelam-se também no preocupante assoreamento dos lagos/reservatórios componentes do sistema de abastecimento de água da região.
A erosão compromete assim tanto a área fonte dos sedimentos, destruindo a infra-estrutura aí atingida, como as áreas para onde esses sedimentos são transportados pelas águas de chuva. Somente nos municípios da Grande São Paulo, centenas de milhões de reais são gastos anualmente no desassoreamento do rio Tietê e seus afluentes e no enfrentamento das enchentes decorrentes. A liberação média de sedimentos por erosão está já na ordem de 10 a 15 toneladas/ha/ano na RMSP, o que implica em volumes anuais de até 3.500.000 metros cúbicos de sedimentos liberados para o assoreamento das drenagens.
Ainda que o fenômeno erosão já tenha sido razoavelmente estudado e medidas preventivas e corretivas venham sendo insistentemente recomendadas pelo meio técnico, o problema vem ainda, infelizmente, ocorrendo em larga escala, especialmente pela providência de combate à erosão junto à sua fonte de origem não ter sido até hoje considerada e priorizada. Para a implementação dessa providência seriam necessárias medidas de caráter preventivo e de caráter corretivo.
Naquilo que se refere às medidas de caráter corretivo, ou seja, de proteção das superfícies de solo já expostas à erosão, pode-se afirmar que sua não aplicação generalizada encontra certamente uma enorme dificuldade devido ao altíssimo custo das alternativas mais conhecidas e comercialmente disponíveis para tanto: gramíneas em placa, hidrossemeadura, geo-texteis, aplicação de telas fixantes, etc.), uma vez que, no caso em questão, está envolvida a necessidade da proteção de enormes extensões de área. O uso alternativo de emulsão asfáltica é totalmente desaconselhável, dadas suas graves conseqüências de ordem ambiental.
Acrescentem-se outras variáveis complicadoras como as comuns características de baixa fertilidade dos solos de alteração, os diversos tipos de exposição desse solo (taludes de corte das mais variadas alturas e inclinações, aterros, bota-foras, áreas planas e semi-planas, etc.), as diferentes condições de insolação de cada exposição, etc.
Neste cenário, evidencia-se que o oferecimento de uma nova técnica de proteção de solos contra a erosão, de aplicação simples, eficaz e economicamente viável, é fundamental para o sucesso de um programa de combate à erosão e, decorrentemente, terá imediata aceitação e grande mercado potencial de aplicação, tanto pelos agentes públicos como pelos agentes privados responsáveis pelos diversos tipos de empreendimentos referidos, possibilitando, então, uma expressiva redução dos processos erosivos e do conseqüente assoreamento da rede natural e construída de drenagem pluvial, com enorme economia para a sociedade e reflexo no combate às enchentes.
A técnica para tanto desenvolvida é baseada na pulverização de calda fluida de cal com aglutinantes sobre as superfícies de solo a serem protegidas, tendo como denominação a expressão “Cal-Jet”. O grande trunfo da técnica Cal-Jet é assegurado pela conjunção dos seguintes atributos: baixo custo, praticidade de aplicação e alto rendimento na aplicação (m²/dia/operador).
Importante considerar que a proteção de solos contra a erosão através da aplicação de pintura de cal, ainda que em pequena escala, já foi usada no passado em taludes viários. O próprio autor desse artigo, e responsável por esse novo desenvolvimento tecnológico, utilizou a técnica com pleno sucesso em taludes viários. Porém, restritamente e com a pintura aplicada com rolos e/ou broxas, fato que impõem alguns problemas operacionais e considerável limitação de rendimento. O objetivo atual foi justamente proporcionar uma técnica de aplicação de fácil manejo e de grande rendimento, portanto propícia para a proteção de grandes superfícies, contínuas ou descontínuas. Esse objetivo foi alcançado através do expediente da pulverização da calda de cal sobre as superfícies de solo a serem protegidas. A pulverização foi possibilitada através da utilização, com pequenas adaptações, de pulverizadores de uso agrícola, tanto os pulverizadores costais manuais, como pulverizadores motorizados
Algumas avaliações iniciais de custos indicam que a proteção de superfícies de solo contra a erosão com a utilização da técnica Cal-Jet resultará custos da ordem de 30 a 50 vezes menores em relação às técnicas clássicas de proteção como grama em placa, hidrossemeadura, mantas vegetais, etc.
A aplicação da técnica Cal-Jet poderá atender situações de proteção permanente (aplicações manuais experimentais realizadas pelo autor em taludes de diversas naturezas geológicas e pedológicas, sem cuidados técnicos especiais, demonstraram durabilidade funcional de pelo menos 3 anos - tempo de duração da observação), ou provisória, quando se pretenda no futuro substituir a pintura de cal por algum tipo de revestimento vegetal de caráter paisagístico.
Aspecto positivo importante ainda a se considerar é a neutralidade ambiental da técnica proposta, tanto do ponto de vista estético (permitindo inclusive a utilização de corantes adequados a cada diferente situação) e o não comprometimento dos solos protegidos (diferentemente das emulsões asfálticas) para eventuais futuras proteções vegetais.
Outro fator extremamente facilitador e conveniente está em que o talude ou superfície de solo a ser protegida não demandaria uma operação anterior de regularização, uma vez que a pulverização atingiria todas as eventuais irregularidades da superfície (pequenas cavidades, buracos, sulcos...).
O desenvolvimento da nova técnica está praticamente concluído, sendo atualmente cumprida uma última etapa de testes de campo para aferição final de alguns procedimentos e para quantificação de fatores de rendimento.
Várias empresas privadas e instituições de pesquisa, entre elas o IPT, estão participando desse projeto, com a cessão de materiais, equipamentos, aperfeiçoamento de componentes, execução de testes experimentais, etc. É senso comum a todas as empresas e instituições participantes, e também ao coordenador do projeto, que não serão requeridos patenteamentos de equipamentos e procedimentos, de forma a não criar nenhuma dificuldade à disseminação, divulgação e uso da técnica por todos agentes sociais interessados.


Erlon Moreira Castilho
7º Período (Geografia)
FCU - Faculdade Católica de Uberlândia
erlonmoreira@yahoo.com.br

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