quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

INFLUÊNCIA DO ESTÁDIO JUCA RIBEIRO NO DESENVOLVIMENTO URBANO DA CIDADE DE UBERLÂNDIA

Erlon Moreira Castilho

erlonmoreira@yahoo.com.br

FCU – Faculdade Católica de Uberlândia



RESUMO: Nas cidades em geral, são comuns as práticas de especulação imobiliária com o objetivo de valorizar áreas específicas. Na cidade de Uberlândia existem lacunas entre o centro da cidade aos vários bairros, loteamentos, residenciais e empresas que foram construídos com esse objetivo. O que não ocorreu com a construção do “Estádio Juca Ribeiro” situado na Vila Operária, hoje Bairro Aparecida, como foi fortemente debatido na época.


Palavras chaves: desenvolvimento urbano, especulação imobiliária.


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INTRODUÇÃO


Em 1922 foi fundado o Uberabinha Esporte clube, hoje Uberlândia Esporte Clube. Na época de sua criação havia nesta cidade a Associação Esportiva Uberabinha, fundada em sua maioria, com elementos ligados ao Partido Republicano Municipal (COCÃO), com praça de esportes construída na Avenida Paranaíba ao lado da chácara de Zacarias Alves de Melo, depois, Cel. Virgílio Rodrigues da Cunha.

Havia na cidade duas bandas de música, sendo uma do partido COCÃO, e a outra do Partido Republicano Mineiro (COIÓ), cujos elementos acordaram em revezar no comparecimento das corporações musicais nos jogos de “futebol”, e cuja combinação foi sempre respeitada. Acontece, porém que certa vez, havendo importante prélio a ser disputado no campo da Associação Esportiva, ali devia tocar a banda dos COIÓS, por força do acordo em vigor e não a banda dos COCÕES; entretanto, Adolfo Fonseca e Silva, destacado elemento da Associação Esportiva, convenceu-se de que, naquele dia devia tocar em campo a banda de música do partido COCÃO. Reclamado o cumprimento do ajuste pelo esportista Agenor da silva Pereira Bino, chefe político da oposição, foi por Adolfo Fonseca respondido: “O campo é nosso e por isto, quem toca hoje é a nossa Banda!...”.

Indignados com aquela atitude, todos os elementos pertencentes ao partido COIÓS retiraram-se do campo e, liderados por Agenor Bino e Gil Alves dos Santos, rumaram para os altos da vila Operária, hoje Bairro Aparecida, onde Gil mandou que se escolhesse e medisse em seus terrenos, a área necessária à construção de um campo de futebol, que resolveram construir sob a bandeira “Verde e Branca” e com denominação de “Uberabinha Sport Club”, cujo local foi cedido gratuitamente.

Assumindo a direção do movimento como coordenador das providências a serem tomadas, Agenor da Silva Pereira Bino demarcou a área onde é hoje o “Estádio Juca Ribeiro”, e convidou os amigos e simpatizantes da situação criada, para que, numa ação conjunta de solidariedade e de trabalho, cada um, com seu valor pessoal, cooperassem na construção da grande obra projetada. ¹



¹ Trecho extraído da história do Uberlândia Esporte Clube fundado em 1922 com a denominação de Uberabinha Esporte clube, da obra “Bandeirantes e Pioneiros do Brasil Central escrito por Tito Teixeira.


FORMAÇÃO DAS CIDADES



O trabalho que aqui se apresenta é parte integrante de uma analogia de um estudo mais detalhado sobre as estruturas urbanas e a dinâmica desses processos, o qual não se limita apenas na formação das cidades, como também todos os interesses que elas apresentam. Localizadas em pontos comuns do território, apresentam uma organização específica e que são frequentemente designadas por orgânicas, espontâneas, irregulares ou informais.

O que temos acompanhado através dos anos, é que as cidades têm mostrado organizações e características específicas no que se refere o seu crescimento e seu desenvolvimento. Podemos destacar a relação existente entre os elementos dessa organização específica (ruas, avenidas, casas, prédios públicos, praças, edifícios singulares, etc.), da estrutura urbana e o seu suporte físico natural, procurando compreender o lugar, na forma e na função desses acontecimentos, ou seja, das partes, na formação de um todo que é a estrutura urbana.

As cidades podem ser naturais e artificiais. As cidades naturais são as que dependem de uma evolução natural, percorrendo todos os estágios necessários para o desenvolvimento. O seu núcleo geralmente é uma igreja colocada num local facilmente acessível, forma-se por sua vez um povoado passando logo depois a vila e mais tarde chegando a transformar-se numa cidade. A maioria das grandes cidades surgiu desse processo evolutivo. As cidades artificiais são resultantes de um planejamento e de discussões com objetivos próprios para o desenvolvimento; ruas traçadas antes que as casas sejam construídas, com praças geometricamente delineadas. Podemos também dizer, em suma, que é cidade planejada, traçada e formada pelo homem.

Levanta-se assim a hipótese de que a gênese e o desenvolvimento, quer da estrutura urbana em geral quer dos elementos que a compõem, obedecem a regras específicas de formação que estão direta ou indiretamente relacionadas com as características do seu suporte físico natural. Parece-nos que cada singularidade do território proporciona uma série de condições de uso, de facilidade de percurso, de áreas de produtividade, de proteção aos ventos, de exposição solar, etc., que predeterminam a apropriação do espaço pelo homem.

E compreendendo tratar-se de uma das mais fortes formas de integração entre o homem e a sua morada, o desenvolvimento Urbano, pautado por programas que venham conceituar necessidades municipais visando uma conjuntura de interação que atenda os interesses locais sendo extensivos aos anseios e cuidados que o Estado e a Federação têm de forma indicativa orientado ao normalizar e incentivar o crescimento Urbano ordenado e de forma científica sempre que isto tenha sido compatível com a segurança e o bem estar do próprio homem.

E é neste contexto de desenvolvimento, a cidade de Uberlândia revela-se um caso paradigmático. Seria impensável uma imagem desta cidade sem ter em conta o seu suporte físico natural. Resta-nos saber até que ponto a sua forma urbana se deve efetivamente a esse aspecto. Ora é isso que se pretende averiguar com este trabalho através duma interpretação tipológica da gênese e do crescimento da forma urbana baseada em técnicas de leitura do território.


A CIDADE DE UBERLÂNDIA


Desde os anos 50, a formação das cidades brasileiras vem construindo um cenário de contrastes, típico das grandes cidades do Terceiro Mundo. A maneira como se deu a criação da maioria dos municípios acabou atropelando os modelos de organização do território e gestão urbana tradicionalmente utilizada, e mostrou-se inadequada. O resultado tem sido o surgimento de cidades sem infra-estrutura e disponibilidade de serviços urbanos capazes de comportar o crescimento provocado pelo contingente populacional que migrou para as cidades. Embora, tais características também fazem referência ao município de Uberlândia, a cidade teve uma peculiaridade interessante, todo o seu processo de formação baseou-se no ordenamento e na distribuição dos proprietários vindos de outros estados convictos em transformar o que seria uma simples região de moradia, num ponto de referência onde se pudesse desenvolver todo o processo de desenvolvimento baseado num ideal elitista.

Era um centro urbano margeado por grandes fazendas, onde seus proprietários percebendo um crescimento desordenado da cidade, e não conseguindo conter essa onda de crescimento, começaram a dispor de partes de suas terras para a construção de novas vilas. Com isso o centro da cidade passou por uma grande transformação, é construído fora do perímetro urbano da cidade o “Distrito Industrial”, provocando a migração das grandes indústrias e das grandes empresas atacadistas para esta região desafogando de forma significativa a cidade.

A partir da década de 70, Uberlândia começou a ter espaços necessários para a construção de novos locais para a construção da cidade, resolvendo de forma prática, com uma grande demanda de habitações, com o objetivo de atender às necessidades da população que já vinha aumentando com a chegada de novos migrantes. O êxodo rural foi talvez, um dos aspectos mais determinantes que contribuiu para o crescimento desenfreado da população das cidades, o que não seria diferente em Uberlândia. Uma vez que, com o aumento da mecanização nas lavouras, o uso da mão de obra nas lavouras ficava cada dia mais escasso, obrigando assim, o abandono das zonas rurais e indo à procura de novas perspectivas.

Novas vilas foram sendo construídas ao longo do tempo, e é lógico que, dentro dessa realidade, foram criadas também novas práticas de valorização desses espaços. A especulação imobiliária se torna explícita com as possibilidades criadas frente a essa demanda de habitação. Os grandes proprietários de terra vêem com bons olhos essa transformação, favorecidos com o processo político da época, e por pertencerem a uma pequena “casta” da sociedade, projetam a formação da cidade objetivando valorizar suas terras.



ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA


A inserção da casa na cidade toma-se uma questão cada vez mais vital. Não só a inserção da casa, como mais comumente se costuma pensar. Também a do supermercado, da Prefeitura, do escritório, da delegacia de polícia, da escola maternal, das enchentes, do pronto-socorro, do restaurante, da poluição, do salão de beleza, da praia etc.

Note-se que não estamos falando do processo de urbanização nem do crescimento das cidades, mas do processo da distribuição interna de seus componentes, seus centros de emprego, seus bairros, seus sistemas de transporte. Falamos da cidade como um enorme ninho que envolve os diversos locais onde se dá de um lado o trabalho e de outro, os inúmeros locais onde a vida se reproduz. A produção desse ninho, pois ele é um enorme produto de trabalho coletivo, se dá sob a égide de uma acirrada disputa: a disputa pelo controle dos tempos e custos despendidos em transporte. A disputa em torno do "perto" e do “longe". Essa disputa não significa que o "perto" é sempre procurado. Como explicar que a burguesia brasileira esteja hoje residindo em subúrbios longínquos? Significa que o "perto" é determinante (no sentido althusseriano) na produção do ambiente construído. Ele explica porque, somente hoje, a procura do ar puro e do verde dos subúrbios passou a dominar dentre os critérios de escolha do local de morar por parte de certas parcelas da nossa burguesia. Somente a partir da década de 70, a difusão do automóvel e das auto-estradas encurtaram as distâncias e permitiram que essas parcelas se espalhassem espacialmente. Não só se espalharam seus bairros residenciais, mas também seus escritórios, seus Shopping centers e seus locais de lazer.

Pelas razões acima expostas é que os sistemas de transportes são vitais na modelagem das cidades, a ponto delas serem classificadas e periodizadas em função desses sistemas: Cidade da caminhada a pé (até a Idade Média), cidade das carruagens (cidade barroca, quando aparece a avenida , cidade do trem, do metrô, do bonde, do ônibus e do automóvel).

Dadas as diferentes condições de transporte das distintas classes sociais em nossas cidades, cada ponto de seu território oferece diferenciadas possibilidades de deslocamento para os demais pontos da cidade. A ampla possibilidade de deslocamentos é vital para o homem urbano, sendo inclusive um índice revelador de riqueza e desenvolvimento. David Harvey disse, com muita propriedade, que os ricos comandam a produção do espaço urbano, mas este, para os pobres, é uma arapuca que os aprisiona. Os especialistas em transporte medem as viagens feitas pelos habitantes das cidades e sabem que o número de viagens (por habitante por dia) é muito maior entre as classes de mais alta renda do que entre as de renda mais baixa.

Ressalte-se, entretanto é isso que desejamos destacar aqui, que a produção do perto e do longe já acontece na própria produção do espaço urbano. Ela envolve os meios de transporte, porém vai além deles.

Há uma forte disputa entre as classes sociais em torno da produção do ambiente construído. Entretanto, o que as classes sociais realmente disputam quando da produção desse ambiente, é mais que o comando do espaço urbano em si: é o controle do tempo despendido em deslocamentos intra-urbanos, já que o tempo não pode ser controlado diretamente. O homem controla o tempo indiretamente, atuando sobre o espaço. É assim que se diz, por exemplo, que com a invenção do avião (rapidez, tempo) o mundo (espaço) encolheu.

Portanto, na medida em que os homens produzem as cidades enquanto espaços físicos estão produzindo simultaneamente as condições de deslocamento espacial, as condições de gasto de tempo e energia nos deslocamentos, as condições do seu consumo. Simultaneamente com a produção do espaço urbano é produzido o "perto", o "longe” o "fora de mão". Perto para alguns, longe para outros.

“A disputa que se trava em torno da produção do "longe" e perto" é mais vital do que aquela que se trava em torno do acesso à rede de água, de esgoto ou de iluminação pública. Esses melhoramentos podem ser (e tendem a ser, embora muito em longo prazo) implantados por toda a cidade. Nos países ricos, por exemplo, eles existem em todos os locais das cidades e mesmo do campo. Ao contrário, o tempo despendido em transporte, nunca poderá ser eqüitativamente repartido por entre todos os habitantes de uma cidade. A classe dominante então, luta para produzir o "perto" para si e o "longe” para os outros.

Evidentemente o "perto" e "Longe" não podem ser reduzidos a simples distâncias físicas. São produzidos através dos sistemas de transportes, através da diferente disponibilidade de veículos por entre as diferentes classes sociais, (automóvel x transporte público) através da distribuição espacial das classes sociais, dos locais de emprego, das zonas comerciais e de serviços etc. Nessas considerações está, por exemplo, a chave da compreensão das razões pelas quais as camadas de mais alta renda crescem mais em certas direções das cidades do que em outras; ou das razões pelas quais os centros das cidades crescem mais em certas direções do que em outras. A cidade, por outro lado, ajusta-se ao veículo que predomina na classe dominante. O automóvel "pede" um tipo de cidade e a classe dominante produz (pelo menos na região onde ela trabalha e mora) esse tipo de cidade na qual é extremamente difícil viver sem automóvel. As auto-estradas fazem nascer os subúrbios residenciais "longínquos" (tornando-os assim "perto"), os Shoppings centers, os afastados "centros empresariais" ou edifícios de escritórios, que por sua vez, mais exigem auto-estradas e automóveis, viadutos e minhocões. Ao, ser proposto um terna como o da inserção da habitação na cidade, é possível que as idéias que mais freqüentemente vêem à mente das pessoas possam ser expressas através de perguntas tais como: em que bairro está sua casa? É longe do centro? Tem condução fácil? Tem comércio e serviços próximos? A rua é pavimentada? Essas perguntas exprimem a questão vital das relações entre a cidade e a casa. Mostram bem que a questão da moradia não se limita a casa, sua forma, seu tamanho, sua solidez. Interessa também, e muito, sua localização, sua vizinhança, os serviços e comércios próximos, as distâncias aos locais de emprego. Interessa enfim, o próximo e o distante, o bom "ponto" e o "fora de mão".

Houve um crescimento significativo sim, o que permitiu que a cidade de Uberlândia a partir dessa época, tivesse um desenvolvimento que causasse inveja às outras cidades da região. Uberlândia passa a ser o centro das atenções no Triângulo Mineiro, com uma localização estratégica invejável, ótimo centro de distribuição e de fácil escoamento de produtos para outros estados e regiões. O centro comercial já estava estagnado, as lojas que vendiam os produtos fabricados aqui e/ou vindo de outras regiões, se viram obrigados a mudarem de local, os comerciantes começaram a procurar novos locais para construírem suas lojas, com mais espaço inclusive para guardarem seus imensos estoques, que era a garantia de fornecimento desses produtos e a garantia de prosperidade.

No “Estádio Juca Ribeiro” que passou por um processo de transformação desde a época de sua construção, foi construído várias salas para que fossem alugadas aos novos comerciantes, que viam ali, um novo local para desenvolverem suas práticas comerciais e um novo local que crescia na mesma proporção que a cidade. A Vila Operária, onde localizava o estádio, foi pioneira nesse processo de mudança, recebendo lojas de grande porte cujos proprietários, apostavam nesta nova região comercial. Muito se comentava naquela época, que, a construção do estádio não só favorecia o desenvolvimento da cidade, como também, os proprietários das terras que se localizavam naquele local. Onde a valorização foi pressentida propositalmente de uma influência visionária para aquela região. Sendo que, foram colocados abaixo tais propósitos ou tais comentários que, após vários estudos sobre a construção do próprio estádio, o único objetivo, era simplesmente de ordem de discussão do passado.



BIBLIOGRAFIA


- VILLAÇA, Flávio. "O que todo cidadão precisa saber sobre habitação", Editora Global, 1986, São Paulo, pág.86 a 89

- AZEVEDO, Aroldo de, «Brasil. A Terra e o Homem», Vol. 1, As Bases Físicas, Companhia Editorial Nacional, S. Paulo, 1964

- BRASIL, Thomaz P. S., «Compendio Elementar de Geographia Geral e Especial do Brasil», 5ª Edição, Eduardo & Henrique Laemmert, Rio de Janeiro, 1869

- LATIF, Miran de Barros, «As Minas Gerais», Livraria Cultura Brasileira, Belo Horizonte

- CARLOS, Ana Fani Alessandri. A cidade / Ana Fani Alessandri Carlos. 7ª ed. – São Paulo: Contexto, 2003. – (Repensando a Geografia)


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